A reciclagem, assim como o tratamento dado ao lixo, é mais antiga do que se pensa. Entenda como e por que esse conceito surgiu
Alguns costumes que temos ou praticamos a vida toda podem ser um grande mistério quando olhados mais de perto. Por exemplo, quantas pessoas sabem que o Papai Noel é uma homenagem ao bispo católico do século IV, São Nicolau? São poucas, mas isso não as impede de comemorar o Natal e levar os filhos ao shopping para conversar com o Bom Velhinho.
Saber a origem das coisas pode ser apenas trazer um conhecimento que não muda muito a nossa rotina. Por outro lado, certas informações podem sim alterá-la. Conhecer a história de algumas práticas verdes pode ser algo novo e divertido, mas também levar à conscientização da necessidade da destinação correta. Você já se perguntou o “que é” ou “como surgiu” a prática de reciclar as coisas?
Se nunca teve essa curiosidade, nós lhe daremos uma forcinha para que você possa navegar pelas águas da “História Verde” e ficar por dentro de tudo. E como diria o sábio, vamos começar pelo começo: o lixo.
Do lixo à reciclagem
Desde que o mundo é mundo, o lixo existe. Os nômades já descartavam os restos dos animais que caçavam e, à medida em que o homem foi ficando mais “civilizado”, a quantidade de lixo produzida por ele também foi aumentando.
De acordo com um estudo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), as civilizações antigas (como os hindus) já dispunham de sistema de esgoto, além de pavimentação nas ruas. Os israelitas, por exemplo, possuíam regras explícitas de como descartar seus excrementos e os restos dos animais sacrificados, bem como os cadáveres e o lixo produzido no reino.
Na Idade Média, sabe-se que várias cidades italianas tinham normas para a destinação de objetos e carcaças de animais, assim como a eliminação de águas paradas e a proibição de lixo e fezes nas ruas.
Foi também na Idade Média que surgiram os primeiros serviços de coleta de lixo. Inicialmente, estes eram prestados por particulares, mas quando fracassavam optava-se pelo serviço público – que era exercido pelos carrascos da cidade e seus auxiliares, tendo muitas vezes a ajuda das prostitutas.
Porém, na segunda metade do século XIX, com a Revolução Industrial, houve um aumento significativo na produção de lixo, causando graves impactos sanitários. Foi necessário programar novas medidas para amenizar a complicada situação dos bairros operários e também dos bairros nobres.
No século XX, a questão do lixo já não girava em torno apenas do descarte de materiais orgânicos. O destino de todo esse lixo (inclusive o industrial) também consistia em um grande problema, tanto que até a metade do século, EUA e Europa jogavam grande parte do lixo coletado nos mares, rios e áreas limítrofes.
Contudo, até aquele momento, o mundo nunca havia produzido tanto em todos os aspectos imagináveis. A Revolução Industrial trazia consigo novos patamares de produção e, a partir deste momento histórico, a situação do descarte tornou-se algo mais complexo e preocupante. Se antes o lixo era constituído apenas de material orgânico, agora ele tem características diversas: pode ser eletrônico, radioativo, industrial, químico, entre outros.
Com isso, surgiu a necessidade de pensar em alternativas que não fossem simplesmente estocar todo esse lixo em aterros ou descartá-los de forma irregular no ambiente, pois grande parte deste lixo demorava muito mais tempo para se desintegrar. Assim, a reciclagem assumiu um papel importante diante de tal necessidade.
A questão da reutilização também não é nova. O uso da matéria orgânica, como adubo, por exemplo, já é reconhecidamente uma tradição que se perpetuou por séculos (hoje dá-se o nome de compostagem – saiba tudo sobre essa técnica aqui).
O que é reciclagem?
O conceito de reciclagem é simples: trata-se de pegar algo que não tem mais utilidade e transformá-lo novamente em matéria-prima para que se forme um item igual ou sem relação com o anterior. Isso é feito de várias maneiras e vemos o resultado desse processo no nosso cotidiano.
Esse é o caso de alguns bens de consumo, como latas de alumínio, papel de escritório e recipientes de plástico. Esses materiais são reciclados em grandes quantidades. Aliás, a reciclagem desse tipo de material era comum no início do século XX, quando muitos produtos eram reutilizados devido às crises econômicas (como a de 1929) e às guerras mundiais. Na década de 40, produtos como o náilon, a borracha, papel e muitos metais eram racionados e reciclados, para ajudar a suportar o esforço da Segunda Guerra Mundial (1939-1944).
Somente após esse período de recessão, países como os EUA viveram momentos de grande prosperidade econômica que impulsionaram uma cultura de consumo e desperdício. No caso da Europa – que ficou praticamente destruída após a guerra –, a implantação do Plano Marshall (que estabelecia ajuda de 17 bilhões de dólares dada pelos EUA a países devastados pela guerra) ajudou a reconstrução econômica de nações como Inglaterra, França, Alemanha e Itália.
Dessa forma, tanto Estados Unidos como a Europa viveriam anos de colaboração comercial que trariam novamente êxito econômico, contribuindo muito para uma sequência de décadas de abundância na fabricação de bens de consumo. Apenas nos anos 70 a reciclagem voltaria a fazer parte das discussões sociais, destacando-se a criação do Dia da Terra - iniciada pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, ativista ambiental, para a criação de uma agenda ambiental.
Atualmente, o termo reciclagem faz parte do cotidiano de bilhões de pessoas ao redor do planeta, inclusive no Brasil.
Como reciclar?
Existem várias formas de destinar seu lixo para reciclagem. Em princípio, se um produto for reciclável (veja como saber), basta descartá-lo de forma correta nos cestos apropriados. Porém, nem todos os bairros, condomínios e casas possuem serviço de coleta seletiva - o Portal eCycle já fez uma enquete perguntando aos usuários a respeito, e 32,4% responderam que não havia coleta seletiva em seu bairro – e muitas vezes o descarte pode ser feito por meio de postos independentes (veja como localizar postos de reciclagem próximos à sua residência). Em outras ocasiões, a prefeitura municipal se encarrega desse serviço.
Também é importante dizer que o avanço tecnológico pode fazer com que um item que atualmente não é reciclável, torne-se reciclável no futuro.
Para os que já são recicláveis, é preciso ter alguns cuidados especiais antes de enviá-los para coleta seletiva. Veja alguns exemplos:
Plástico - consiste em transformar os plásticos (tanto os oriundos de sobra industrial - sobras virgens do processo produtivo - quanto os descartados pós-consumo - materiais recuperados no lixo por meio da coleta seletiva) em pequenos grânulos, que podem ser utilizados na produção de novos materiais, como sacos de lixo, pisos, mangueiras, embalagens não-alimentícias, peças de automóveis etc.
Papel - a grande quantidade de papel que é consumida no mundo causa graves problemas ambientais, como o desmatamento de florestas. Para conter esse problema, uma das soluções é a reciclagem, que reaproveita o papel usado para produzir outro novo em folha; a reciclagem é simples e barata.
Caixas de Leite - a maioria das embalagens longa vida é feita a partir de uma mistura de materiais com propriedades diversas. Mesmo assim, é possível reciclá-las e, no Brasil, existem cerca de 20 usinas especializadas na reciclagem de embalagens cartonadas (Tetra Pak). É importante descartar os materiais recicláveis limpos, para não ocorrer a proliferação de doenças, odores, bem como para evitar a contaminação de itens recicláveis que estejam no mesmo local, pois caso ocorra a contaminação, a reciclagem dos materiais contaminados fica mais difícil.
Caixas de Pizza - óleo e gordura da pizza dificultam processo de reciclagem do papelão das caixas. Mas há alternativas, como criar outras embalagens ou separar as partes da caixa que não foram manchadas pela gordura, como a superfície, e enviar para coleta seletiva.
Pneus - não são tóxicos, mas causam problemas. Apesar de não serem compostos de materiais tão nocivos a ponto de prejudicar o meio ambiente, os pneus descartados de forma errada contribuem para a proliferação de doenças, como a dengue. Além disso, somente no Brasil, 45 milhões de pneus são produzidos por ano e muitos pneus acabam jogados em rios, o que aumenta a calha dos mesmos, podendo causar transbordamentos. Uma boa alternativa é recauchutar em uma oficina ou doar para empresas que o reutilizam de outras formas.
Lâmpadas Fluorescentes - mercúrio e chumbo são metais que estão dentro da lâmpada e podem prejudicar nossa saúde, portanto é importante tomar cuidado ao descartá-las. Outra medida é assegurar que as lâmpadas não sejam enviadas para aterros comuns. Por isso, consultar os postos de reciclagem adequados é essencial.
Lixo Eletrônico - conserte, doe, reutilize ou recicle, mas não jogue seus eletrônicos no lixo comum, pois eles possuem vários componentes e substâncias que podem causar doenças, como cádmio, chumbo e mercúrio. Sendo assim, o melhor que você pode fazer é procurar postos de reciclagem para eletrônicos (clique aqui e acesse a sessão específica para busca de postos da eCycle) ou tentar devolver os produtos para os fabricantes, que ficarão responsáveis a dar uma destinação correta a partir da lei de resíduos sólidos.
Amianto - a recomendação é de que o amianto seja descartado juntamente com resíduos tóxicos, em aterros especializados. Portanto, mesmo com todas as garantias dadas pela indústria, o amianto é um material perigoso e que não tem como ser reutilizado ou reciclado.
As alternativas para descartar de forma consciente e sustentável todo o tipo de lixo estão disponíveis no Porta eCycle. Não deixe de consultar a Seção Recicle Tudo para ficar por dentro de tudo que pode ser reciclado e como fazer isso!
E se você quer descartar seu lixo de forma correta, mas não há serviço de coleta seletiva em seu bairro e você não tem tempo de procurar postos de reciclagem, use o serviço Descarte Certo In a Box! - uma forma de descartar objetos sem sair de casa e tendo a garantia de que todos os seus componentes serão devidamente reciclados ou tratados da melhor forma possível para reaproveitamento, sem qualquer risco ambiental.
O upcycle
Assim como a reciclagem, a prática de upcycling também consiste em dar uma nova utilidade a algo que foi descartado, porém, com a diferença de não usar energia para transformar o objeto em matéria-prima. Ou seja, é ainda mais ecológico, pois dispensa a energia gasta na atividade industrial. Em outras palavras, trata-se de reaproveitamento.
Podemos observar esse processo em situações que esbanjam criatividade, comoreaproveitar geladeiras como bibliotecas.
A tendência do upcycling também vem sendo abraçada pelas indústrias da moda e da decoração (saiba mais).
Cenário da reciclagem no Brasil
Hoje em dia, reciclar é mais do que necessário. A maioria dos países tem essa preocupação, apoia programas ambientais e, consequentemente, de reciclagem. No Brasil, de acordo com a associação sem fins lucrativos CEMPRE (O Compromisso Empresarial para Reciclagem), o faturamento das cooperativas de catadores cresceu 311%, com ganhos de produtividade que superam 50% (em tonelagem/dia) no período de 2010 a 2014.
Um dos próximos passos para manter esse progresso é a formalização da atividade desempenhada pelos catadores. Contudo, mesmo o Brasil tendo mostrado iniciativas reconhecidas por órgãos internacionais, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), ainda há muito a se fazer. Em 2012, apenas 18% dos municípios brasileiros possuíam coleta seletiva.
Portanto, há uma grande porta de entrada para ideias verdes que ajudem a proliferar ainda mais o conceito de reciclagem no Brasil e no mundo.
Fonte : www.ecycle.com.br
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