quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Contra uso de agrotóxico proibido, pesquisadores brasileiros criam biossensor que detecta pesticida na água, solo e alimentos

Esse sensor pode ainda detectar o vírus da dengue

Apesar de haver sido banido no Brasil, um pesticida altamente tóxico continua sendo usado, especialmente nas lavouras de soja no Estado do Mato Grosso, para exterminar lagartas e percevejos que atacam o plantio de oleaginosas, os vegetais que possuem óleos e gorduras. Esse pesticida, chamado de metamidofós, consegue facilmente penetrar o solo atingindo os lençóis freáticos, ou seja, além da contaminação aos alimentos, tem efeito nocivo igualmente sobre o solo, sobre a qualidade da água e seres vivos que dela se servirão. A substância é prejudicial ao ser humano, porque atua no sistema nervoso central e inibe a ação da enzima que promove as ligações ou sinapses dos neurônios, chamada de acetilcolinesterase. O agrotóxico também pode causar danos nas funções neurológicas, nos sistemas imunológico, reprodutor e endócrino, podendo acarretar em doenças graves e até à morte dos seres humanos, além de determinar poluição ao meio ambiente.
Por conta dos estragos causados por esse pesticida, em benefício da maior sustentabilidade na agricultura, segmento da maior importância em nossa economia, pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com colegas da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) desenvolveram um sensor biológico ou biossensor que consegue detectar, em alguns minutos, a presença do metamidofós na água, nos alimentos e no solo. Segundo os pesquisadores, o biossensor pode sofrer uma adaptação para detectar outros tipos de pesticidas, tanto que o princípio básico do aparelho deu origem a um possível novo método que detecta infecção pelo vírus da dengue.
O sensor foi desenvolvido no Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica (INEO) apoiado pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Estado de São Paulo. Como o pesticida atua diretamente na enzima das sinapses, foi preciso realizar um rápido teste usando essa enzima para descobrir se existe a presença do pesticida. E para fazer isso, os pesquisadores criaram um sensor de Ph, que mede prótons (íons H+), composto por uma lâmina de vidro de camadas de óxido de silício em escala nanométrica, na qual a enzima acetilcolinesterase foi imobilizada e manteve a sua função de promover as sinapses.
Aconteceu o seguinte: o sensor foi colocado em uma solução de extrato de soja, por exemplo, em que continha pequenas quantidades de metamidofós. Assim, a enzima passou a ter uma menor produção de prótons do que produziria se não estivesse na presença do pesticida. Os pesquisadores descobriram isso por meio de um aparelho criado por eles que indica qual o nível de atividade da enzima e o índice de contaminação pelo pesticida.
Com esse biossensor em mãos, os pesquisadores agora estão em busca de um substituto para a enzima acetilcolinesterase, que é considerada cara. Para isso, eles pretendem estudar frutas como abacate e banana, para destas poder obter outro tipo de enzima que faça à sinapse, de maneira semelhante à utilizada até então no estudo.
Os pesquisadores querem levar isso adiante, pois acreditam que seja a tecnologia seja solução para diminuir para minutos o tempo de obtenção dos resultados. Isso porque, atualmente, as análises de contaminação do Estado do Mato Grosso, o mais afetado, são enviadas para o Rio de Janeiro ou São Paulo e demoram dias para o processo. E agora com o sensor, de acordo com Nirton Cristi Silva Vieira, um dos orientadores, o processo de aferição de contaminação da água não levará mais do que alguns poucos minutos. 
A ideia desse sensor biológico surgiu em um encontro de pesquisadores e se tornou a primeira patente da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) nos seus 40 anos de existência. E por conta de sua importância, já despertou interesse de uma empresa mineira de biotecnologia que quer fabricar e comercializar o sensor e o medidor por um preço que varia entre R$ 100 e R$ 200 a unidade. Adicione-se a isso a possibilidade de esse sensor detectar o vírus da dengue.
É boa nova para a sociedade, cuja população em franco crescimento carece de um suprimento sustentável cada vez maior por alimentos. Infelizmente, este cenário traz consigo a realidade de produtores que em busca da conquista de produtividade agrícola capaz de atender à forte demanda, por vezes fazem uso deliberado de substâncias tóxicas que garantam seus níveis de produção. Abrem mão da ética, do compromisso com os efeitos que o consumo de seus produtos possam causar. Neste sentido, precisamos sim de consumo sustentável, mas igualmente maior responsabilidade civil e ambiental por parte de produtores, reconhecimento e apropriação da bioética a suas condutas na compreensão que suas atividades são da maior relevância para a condução de uma administração responsável da vida em suas variadas formas e espécies.
Fonte : www.ecycle.com.br

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